A Ditadura da Felicidade
- Alexandre Lombardi dos Santos
- 7 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2024
No mundo contemporâneo, o conceito de felicidade converteu-se em um imperativo social, promovido pela popularização da indústria da felicidade. Esse fenômeno promove uma pressão constante sobre a sociedade de manter um determinado estado de humor sob diversos aspectos, sob a pressão da mídia social, marketing de produtos e outros campos.
É frequentemente associado ao fato que pessoas são forçadas a ignorar problemas reais, muitas vezes de natureza profunda e complexa, em prol da felicidade, que em muitos casos é superficial e artificial. Finalmente, a indústria da felicidade sempre se baseia em produtos que afirmam a ideia de alcançar a felicidade por meio de consumo de algo concreto ou de realização de ações predefinidas.
Há muitos livros de autoajuda que alegam conseguir fornecer receitas para a felicidade, e objetos, ferramentas, etc. que permitem essa conduta em torno do tema do culto ao belo e de bem-estar imediato. A problemática é que ela suprime uma série de aspectos emocionais e socioeconômicos que afetam a saúde emocional do indivíduo.
Uma situação clara pode ser observada nas redes sociais, como o Instagram, onde os usuários compartilham fotos da vida diária. Essas fotos atestam raramente o sofrimento, levando outra parte da sociedade a sofrer, constantemente comparando suas vidas com a vida idealizada por alguém e anseia por uma essa vida.
Portanto, o culto à aparência alegre, bem-disposta, sorridente, embora não a felicidade em si, força as pessoas a ignorarem seus sentimentos reais e dificuldades significativas em suas vidas. O problema do SER, ESTAR, PARECER é crucial aqui novamente, uma vez que atualmente é extremamente importante que as pessoas PAREÇAM ricas, PAREÇAM bonitas, ao invés de serem como tal.
A indústria da felicidade é suportada pelo comércio de produtos que prometem felicidade instantânea. Desde pílulas de dieta até monitores de qualidade do sono, o desejo de felicidade é correspondido com uma mensagem de consumismo. Embora existam certos benefícios relacionados a alguns desses produtos, raramente abordam problemas subjacentes resultantes em mal-estar, incluindo problemas de saúde mental, deficiência financeira, relacionamentos tóxicos, entre outros.
Outro fator preocupante é a demanda por felicidade no local de trabalho. Várias empresas têm planos de bem-estar com aulas de ioga, meditação. Embora essas atividades sejam benéficas, podem funcionar como um antídoto para condições de trabalho cruéis, bem como relações problemáticas entre patrões e assalariados.
O que se percebe é a implementação de rígidas ideias sobre a responsabilidade individual do trabalhador para com a felicidade, e qualquer necessidade de mudança estruturante, social ou comportamental no trabalho é dificultada, pois a ideologia dominante exige todos felizes, mascarando-os e evitando que sejam evidenciados e resolvidos.
De fato, a literatura nos serviços de psicologia e sociologia levantou as bandeiras sobre buscar a felicidade a qualquer custo, ou falsear seus sentimentos todo o tempo. Como os profissionais têm sugerido, a supressão de emoções negativas pode fomentar reações e encadear problemas de saúde mental.
Quando a felicidade é apresentada como um objetivo e não um caminho a ser percorrido, cria-se uma situação em que se estabelece um ciclo de frustração e descontentamento. A dado prazo, a indústria da felicidade faz com que seja logo alterado objetivo anterior para outro, como a compra de um novo celular, um carro, etc.
Portanto, é inevitável questionar a narrativa proposta pela indústria da felicidade. A busca pelo bem-estar não deve ser um sinônimo de repressão ou negação dos desafios reais. Em vez disso, deve ser fundamentada em uma manipulação equilibrada e racional que reconheça a felicidade e as dificuldades, como partes significativas da experiência humana.
A autenticidade e a profundidade no entendimento da felicidade podem surgir do confronto implacável com a realidade e da tentativa de encontrar soluções reais para os desafios apresentados. Em conclusão, a substituição da tristeza pela alegria forçada não permite que uma sociedade seja saudável.
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