Qual é o significado de fascismo?
- Alexandre Lombardi dos Santos

- 8 de nov.
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O bolsonarismo apresenta traços autoritários, com discursos que deslegitimam instituições democráticas e promovem a ideia de que a política tradicional está corrompida. Essa lógica se aproxima do fascismo, que também rejeitava o pluralismo e defendia um líder forte como representante direto do “povo”.
Assim como regimes fascistas, o bolsonarismo utiliza uma narrativa de “nós contra eles”, criando uma dicotomia entre o “povo” e os seus inimigos (elites, imprensa, universidades, movimentos sociais). Essa estratégia facilita a concentração de poder numa liderança carismática. [jornalggn.com.br]
Há traços de intolerância ideológica, racismo, misoginia e beligerância, características que alguns autores associam ao fascismo histórico. O bolsonarismo é visto como um movimento de extrema-direita que nega a convivência com ideias opostas, algo típico do extremismo fascista. [controversia.com.br] A figura central de Jair Bolsonaro, associada a valores militares e à exaltação das Forças Armadas, remete a elementos presentes no fascismo clássico, embora adaptados ao contexto brasileiro contemporâneo. [ihu.unisinos.br]
Diferenças importantes
Contexto histórico: O fascismo original surgiu na Europa do entre guerras, com forte base corporativista e projeto imperialista. O bolsonarismo, por outro lado, é um fenômeno do século XXI, marcado por redes sociais, fake news e uma lógica digital de mobilização. [pos.direito.ufmg.br]
Estrutura ideológica: Muitos estudiosos afirmam que o bolsonarismo não é uma ideologia sistemática como o fascismo, mas um movimento heterogêneo que mistura neopentecostalismo, militarismo, liberalismo econômico e pautas conservadoras. [aterraeredonda.com.br]
O bolsonarismo não é idêntico ao fascismo histórico, mas compartilha elementos de autoritarismos, populistas e extremistas que permitem classificá-lo como uma expressão contemporânea de tendências neofascistas, segundo diversos analistas, o contrário à democracia.
A relação entre filosofia, economia e política nunca foi tão evidente quanto hoje. Em meio à hiperconectividade e à ascensão de movimentos autoritários, ideias do século XX ressurgem com novas roupagens. Martin Heidegger, crítico da técnica e da modernidade, oferece uma lente para compreender como o capitalismo digital e tendências neofascistas se entrelaçam no presente.
Heidegger via a técnica não somente como ferramenta, mas como uma forma de pensar que transforma tudo em recurso disponível — inclusive o ser humano. Essa crítica, formulada no conceito de Gestell, ganha atualidade diante do poder das Big Techs, que reduzem indivíduos a dados e algoritmos. A promessa de eficiência e controle, típica da lógica capitalista, intensifica a alienação e cria um vazio existencial. Nesse cenário, a busca por sentido torna-se urgente, e é justamente aí que discursos autoritários encontram terreno fértil (SILVA, 2010; SHIMABUKURO, 2018).
O capitalismo contemporâneo não se limita à produção material; ele invade a esfera simbólica e afetiva. Redes sociais monetizam atenção, moldam desejos e reforçam a lógica do desempenho. Essa dinâmica gera ansiedade e fragmentação, abrindo espaço para narrativas que oferecem identidade e pertencimento. Movimentos populistas e neofascistas exploram essa crise com promessas de ordem e comunidade, recuperando elementos do fascismo histórico — culto ao líder, militarismo simbólico, antipluralismo — adaptados à estética digital (GERBASI, 2023).
Heidegger acreditava que a técnica era expressão da metafísica ocidental, e a sua crítica à modernidade foi, em parte, apropriada por ideologias reacionárias. O nazismo, que ele chegou a apoiar, apresentava-se como alternativa à decadência liberal, assim como hoje certos discursos autoritários se apresentam como solução para os “excessos” da globalização. A diferença é que, agora, a mobilização ocorre mediante memes, fake news e algoritmos, instrumentos que Heidegger jamais imaginou, mas que dialogam com a sua visão da técnica como força desumanizadora (FAYE, 2015; MAURER, 2003).
Heidegger critica o capitalismo como expressão da técnica e da alienação moderna, mas sua adesão ao nazismo mostra afinidade com um projeto fascista que prometia superar essa decadência.
Fascismo e capitalismo podem se articular pragmaticamente (como ocorreu na Itália e Alemanha), mas não são idênticos: fascismo busca uma “revolução nacional” e uma ordem orgânica, enquanto capitalismo visa acumulação e mercado. Heidegger fornece uma base filosófica para entender como a crítica à modernidade pode ser capturada por projetos autoritários. Ele acreditava que as crises capitalistas abriam uma brecha para o fascismo surgir.
Compreender essas interações é essencial para defender a democracia. A crítica heideggeriana pode inspirar reflexões emancipatórias, mas também pode ser instrumentalizada para legitimar projetos autoritários. Num mundo marcado por crises de sentido e pela lógica do capital digital, a filosofia não é somente um exercício teórico: é uma ferramenta para pensar os riscos e possibilidades do nosso tempo.
Referências (ABNT)
FAYE, Emmanuel. Heidegger e a Introdução da Filosofia no Nazismo. São Paulo: É Realizações, 2015.
GERBASI, Vinicius Aleixo. Fascismo, técnica e capitalismo. LavraPalavra, 2023. Disponível em: <https://lavrapalavra.com>.
MAURER, Reinhart. O que existe de propriamente escandaloso na filosofia da técnica de Heidegger. Natureza Humana, v. 5, n. 2, 2003.
SHIMABUKURO, Felipe. A questão da técnica no pensamento de Heidegger. Revista UERJ, 2018.
SILVA, Franklin Leopoldo e. Martin Heidegger e a técnica. SciELO Brasil, 2010.






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